Poe artigo 2

3478 palavras 14 páginas
EDGAR ALLAN POE – FICÇÃO COMPLETA – CONTOS DE TERROR, MISTÉRIO E MORTE

HOP-FROG
Jamais conheci alguém que fosse tão vivamente dado a brincadeiras como o rei.
Parecia viver apenas para troças. Contar uma boa história do gênero jocoso, e contá-la bem, era o caminho mais seguro para ganhar-lhe as boas graças. Por isso acontecia que seus sete ministros eram todos notáveis por sua perícia na arte da pilhéria. Todos se pareciam com o rei, também, por serem grandes, corpulentos e gordos, bem como inimitáveis farsistas. Se é a brincadeira que faz engordar ou se há algo na própria gordura que predispõe à pilhéria, nunca fui capaz de determiná-lo totalmente, mas o certo é que um trocista magro é uma rara avis in terris.
Quanto às sutilezas - ou, como ele as chamava, o "espectro' do talento -, pouco se incomodava o rei com elas. Tinha admiração especial pela largura numa pilhéria e a digeria em comprimento por amor a ela. As coisas demasiado delicadas o aborreciam.
Teria dado preferência ao Gargântua de Rabelais, em lugar do Zadig de Voltaire e, sobretudo, as piadas de ação satisfaziam-lhe muito melhor o gosto que as verbais.
Na data de minha narrativa os bobos profissionais não estavam totalmente fora de moda na corte. Muitas das grandes "potências" continentais mantinham ainda seus "bobos" que usavam traje de palhaços com carapuças de guizos e cuja obrigação era estarem sempre prontos com agudos chistes, a qualquer instante, em troca das migalhas caídas da mesa real.
Nosso rei, como é natural, mantinha seu "bobo". O fato é que ele sentia a necessidade de algo, no gênero da loucura, sem falar de si mesmo, que contrabalançasse a pesada sabedoria dos sete sábios, seus ministros.
Seu "bobo", ou jogral profissional, não era, porém, apenas um bobo. Seu valor triplicavase, aos olhos do rei, pelo fato de ser também anão e coxo. Os anões eram, naquele tempo, tão comuns nas cortes como os bobos, e vários monarcas teriam achado difícil passar o tempo (o

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