O problema da sociologia
Georg Simmel
Se deve existir uma Sociologia como ciência particular, é necessário que o conceito de sociedade como tal, por cima da agrupação exterior dos fenômenos, submeta os fatos sociais históricos a uma nova abstração e ordenação, de modo que se reconheçam como conexas e formando assim objeto de uma ciência, certas disposições que até então só foram observadas em outras e várias relações.
Este ponto de vista surge agora mediante uma análise do conceito de sociedade, que se caracteriza pela distinção entre forma e conteúdo da sociedade – devendo ser acentuado que isso em realidade nada mais é do que uma metáfora para designar aproximadamente a oposição dos elementos que se deseja separar; esta oposição deve ser entendida em seu sentido peculiar, sem se deixar levar pela significação que tais designações provisórias possam ter em outros aspectos. Para chegar a esse objetivo, parto da mais ampla representação imaginável da sociedade, procurando evitar no possível a polêmica das definições. A sociedade existe onde quer que vários indivíduos entram em interação. Esta ação recíproca se produz sempre por determinados instintos
(Trieben) ou para determinados fins. Instintos eróticos, religiosos ou simplesmente sociais; fins de defesa ou ataque, de jogo ou ganho, de ajuda ou instrução, estes e infinitos outros fazem com que o homem se encontre num estado de convivência com outros homens, com ações a favor deles, em conjunto com eles, contra eles, em correlação de circunstâncias com eles. Numa palavra, que exerça influência sobre eles e por sua vez as receba deles. Essas interações significam que os indivíduos, nos quais se encontram aqueles instintos e fins, foram por eles levados a unir-se, convertendo-se numa unidade, numa “sociedade”. Pois unidade em sentido empírico nada mais é do que interação de elementos. Um corpo orgânico é uma unidade, porque seus órgãos se encontram numa troca mútua de suas energias, muito