A arte de improvisar

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Quem não admira um ator cujas improvisações fluem com espontaneidade? Ou um conferencista com ideias que borbulham ao sabor do momento e de sua inspiração? Assisti a uma conferência do Amyr Klink. No princípio, ele nem sabia bem o que iria dizer, mas, ao cabo de alguns minutos, as ideias magicamente se juntaram, compondo uma apresentação brilhante. Nossa cultura valoriza as artes da improvisação, seja no palco, seja nos repentistas do Nordeste, seja nas salas de aula. Genial é aquilo que brota da mente criativa, sem as peias do ensaio e da preparação exaustiva. Só que não é bem assim. A arte da improvisação é uma farsa. Os mais notáveis improvisadores são os que mais se preparam. Amyr Klink planeja detalhadamente as suas expedições e ensina isso a executivos. Será que a aparência de improvisação não seria parte da preparação e do charme?

Os cômicos e os repentistas improvisam sobre linhas que já praticaram. Como disse sua filha, para Fernanda Montenegro, "memorizar uma obra é um ato de loucura, uma luta bestial... é no cansaço e na repetição... que se atinge a tão cobiçada mestria". Marx levou dez anos burilando a forma literária de O Capital. Durante a guerra, De Gaulle falava pelo rádio para o povo francês. Poderia ler o discurso, quem iria saber? Mas não, era todo decorado, para parecer mais espontâneo. Há uma escola de pintura chinesa em que os quadros são pintados em poucos minutos. Mas, para isso, é preciso praticar por décadas a fio.

Na educação, é a mesma coisa. Richard Feynman, prêmio Nobel de Física, foi um dos homens mais versáteis e brilhantes do século XX. Em suas memórias, descreve o trabalho exaustivo requerido para preparar suas aulas e encontrar bons exemplos e exercícios. Para seu livro (Aula Nota 10), Doug Lemov observou metodicamente como agem os professores americanos mais eficazes do ensino básico. Concluiu que os mestres geniais preparam minuciosamente as suas aulas. Relatos de bons professores brasileiros mostram o mesmo. Esses

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