toxicomania

Abuso de drogas: do ritual ou uso massificado.
Durval Mazzei Nogueira Filho.
Introdução.
Há mais de uma maneira de encarar a questão do uso, abuso e dependência de drogas. Espera-se que este capítulo possa debatê-las. Pois, não é difícil assumir um discurso estereotipado, libertário ou coercitivo, a respeito do tema.
Algumas das perspectivas podem ser expostas: 1. as drogas são uma questão privada, de foro íntimo, e não se admite que os vários discursos de natureza moral, punitiva, médica, epidemiológica, filosófica interfiram na liberdade individual de um sujeito; 2. as drogas são substâncias tóxicas que prejudicam o bom funcionamento orgânico e os sujeitos que delas dependem são doentes, doença que, em última instância, revela uma disposição genética a usá-las.
Propõe-se, então, construir um texto que não se paute por estas duas perspectivas mas possa contemplá-las e, ao mesmo tempo, adquirir a necessária liberdade de não repeti-las. Pois, ambas são posições que se encerram em seu próprio enunciado e não se abrem a discussões que as contestem ou colaborem para a revisão, seja de uma seja da outra.
Assim, o ponto de partida situa-se no reconhecimento – sobejamente repetido por estudiosos do tema – de que a humanidade conhece as drogas desde seu advento e a elas recorre em circunstâncias tão díspares quanto o encontro da divindade ou o alívio de mal estar ordinário, seja de natureza orgânica ou psíquica.
A orientação é dada por proposições como as que seguem. Uma delas, Freud expôs em seu texto sobre o mal-estar na civilização. Freud parte do princípio que “a intenção de que o homem seja feliz não se acha incluída no plano da Criação” e que a existência não se furta ao sofrimento oriundo “de nosso próprio corpo que, condenado à decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade como sinais de advertência do mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas e, finalmente, de