toxicomania

Toxicomania: uma revisão conceitual Juliana Cunhai

She don´t lie, she don´t lie, she don´t lie,
Cocaine
Eric Clapton

Resumo
Constata-se que, ao longo da história da psicanálise, houve um debate acerca do estatuto da toxicomania enquanto categoria clínica, o que sinaliza certa suspeita quanto à suficiência deste fenômeno como conceito psicanalítico. Este artigo se propõe a uma revisão do conceito de toxicomania, a partir de duas noções caras à teoria psicanalítica – estrutura e discurso – com o intuito de melhor justificar sua permanência dentro da teoria psicanalítica.
Palavras-chave: toxicomania; estrutura; discurso; gozo.

Uma questão frequente nos estudos psicanalíticos sobre a toxicomania é a indagação acerca do estatuto deste fenômeno enquanto uma categoria clínica, ao ponto de parecer uma pergunta indispensável para os psicanalistas que se ocupam em teorizar sobre as especificidades desta clínica. Por que para a psicanálise o fato de falar em toxicomania seria por si só um problema que imporia a exigência de primeiro pôr sob suspeita a suficiência deste termo como um conceito psicanalítico?
A categoria toxicomania não se restringe ao campo da psicanálise, nem tampouco foi forjada por ela. Trata-se de uma nosologia psiquiátrica, que em sua origem se localizava entre as manias, e hoje se constitui como uma categoria médica autônoma.
Caracteriza-se também, contemporaneamente, por sofrer a injunção de diversos discursos sobre o social, seja ele político, econômico ou policial. Além de uma literatura sobre as drogas que passa por diversas áreas de conhecimento, é pauta diária em debates públicos e atualmente ganha contornos particulares pela proximidade com a violência e o tráfico.
Frente à dimensão de apelo que caracteriza os discursos sobre as drogas hoje em dia, seria preciso que a psicanálise não perdesse de vista aquilo que a instituiu de modo singular, o que permitiu que mais de 60 anos depois de sua fundação, Lacan a formulasse