Teatro e criatividade
As relações estéticas (ou sensíveis) e criativas – que congregam razão, afetividade, corpo e desejo – possibilitam ao sujeito estranhar a realidade vivida e, a partir desse distanciamento, produzir outra, mediada por novas significações que, uma vez apropriadas, podem contribuir para o redimensionamento e a re-significação do próprio viver/existir bem como para a transformação das imagens de si mesmo.
A atividade criadora se estabelece como um modo de ação humana no qual se objetivam as relações e os processos de singularização dos sujeitos. Como atividade contextualizada – marcada pelas idiossincrasias de sujeitos que, no processo, se interpelam, e pelas demais vozes sociais envolvidas, sejam silenciosas ou não, amalgamadas ou claramente distinguíveis – a atividade estético-criadora é sempre uma ação social, fruto de sujeitos inexoravelmente sociais que, inseridos historicamente em uma cultura, singularizam-se continuamente no movimento de apropriação dos modos coletivos nela existentes. Essa apropriação se dá mediada pela linguagem, ou seja, por processos de significação plurais, contraditórios e polissêmicos que possibilitam sua constituição.
Atividade criadora é, portanto, atividade em que se recria a própria realidade e o sujeito criador, ambos social e históricamente produzidos. Nessa perspectiva, considerase que a relação com um outro é fundante do próprio sujeito, a existência de um eu só é possível via relações sociais e, ainda que singular, é sempre e necessariamente marcada pelo encontro permanente com os muitos outros que caracterizam a cultura (Zanella, 2005).
Falar de imagem de si mesmo, portanto, requer a reflexão sobre a imagem que o outro faz do sujeito e que lhe apresenta, sendo esse outro considerado não necessariamente um outro identificável, reconhecível, mas o outro da cultura. Mídia, ciência, outros anônimos ou não, todos, de certa forma, participam da constituição