Professores que não gostam de ler
Democracia e justiça social só são possíveis em uma sociedade que tenha em seu projeto político a garantia de alfabetização, leitura e escrita. Essa é a idéia inicial defendida pela professora e pesquisadora do Departamento de Educação da PUC-Rio, Sonia Kramer, no livro Alfabetização - Leitura e escrita, reeditadas pela Editora Ática. Publicada pela primeira vez em 1980, a obra foi revisada e traz a constatação de que, em muitos aspectos, a educação no Brasil não mudou desde a primeira edição do livro.
Alfabetização apóia-se em objetivos claros ou "convicções" como escreve a própria autora: "Uma política cultural efetiva é disso que necessitamos..." Portanto, Kramer analisa a educação brasileira partindo, principalmente, de idéias relacionadas às políticas públicas e que tem conseqüências diretas no cotidiano do professor, como a questão dos salários e da formação permanente. Suas reflexões têm por inspiração "o magistério e suas lutas".
Se Alfabetização parte de uma concepção ampla a respeito da educação brasileira, é no desenvolvimento de três grandes temas que Kramer chega a questões práticas do cotidiano dos professores. Na apresentação do livro, a autora já alerta para essa abordagem, revelando que muitas das perguntas de seu trabalho surgiram de discussões com professores em projetos de formação da qual participou, em pesquisas ou consultorias.
A primeira parte, "Alfabetização e cotidiano da escola", aborda a prática pedagógica por meio de estudos que tiveram origem em pesquisas da autora. Dessa forma, ela faz um "mergulho na alfabetização" e elabora uma compreensão teórica do tema. Descreve estratégias e procedimentos metodológicos adotados em suas investigações e recorre a diálogos e comentários anotados durante reuniões de pais e professores. Outros dois textos, na mesma seção, focalizam a formação de professores e propõem reflexões sobre formas de trabalho correntes nessa formação, dificuldades no desempenho do