Cultura e sociedade

867 palavras 4 páginas
Sobre o Princípio da Racionalidade em Freud
Karl Popper
Diz-se freqüentemente que Freud descobriu a irracionalidade humana; esta, porém, é uma interpretação falsa e, além disso, muito superficial. A teoria freudiana da origem normal das neuroses se insere perfeitamente em nosso esquema, a saber, um esquema de explicações construídas com a ajuda de um modelo situacional que se ajusta ao princípio da racionalidade. De fato, Freud explica uma neurose como uma atitude adotada na infância precoce, porque ela se constituiu na melhor saída disponível para escapar de uma situação que a criança fora incapaz de compreender e a qual não sabia enfrentar. Assim, a adoção de uma neurose deve-se a um ato racional da criança - tão racional, por exemplo, que o ato de um homem adulto que, ao tentar evitar o perigo de ser atropelado por um carro, é então derrubado por um ciclista. Este é um ato racional no sentido de que a criança escolheu aquilo que lhe pareceu se impor imediatamente, de modo evidente, ou talvez aquilo que se constituiu na possibilidade menos intolerável dentre as duas possibilidades existentes.
Do método freudiano em terapia eu direi aqui apenas que ele é ainda mais racionalista que o seu método de diagnóstico ou de explicação; de fato, ele se baseia na hipótese de que, a partir do momento em que um homem compreende inteiramente o que lhe aconteceu na sua infância, sua neurose irá desaparecer.
Mas se explicamos assim todas as coisas em função do princípio da racionalidade, não haveria risco de um resultado tautológico? Certamente que não; de fato, uma tautologia é verdadeira por evidência, ao passo que empregamos o princípio de racionalidade simplesmente como uma boa aproximação da realidade, reconhecendo que ele não é verdadeiro.
Dir-se-á ainda: nessas condições, de onde vem a distinção entre racionalidade e irracionalidade? Entre saúde e patologia mental?
Esta questão é importante. A diferença principal, me parece, tem a ver com o fato de que as idéias de

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