Manual de boas práticas de fabricação
Reações dos dois lados do Atlântico contestam a nova ortografia já adotada no Brasil
Luiz Costa Pereira Junior
Menos de seis meses após adotar o novo acordo ortográfico, Portugal ameaça mandar às favas a grafia que já vigora no Brasil. O secretário da Cultura português, Francisco José Viegas, de 49 anos, defende que o país pode "corrigir" o acordo multilateral, conforme a conveniência de seu país. A manifestação é inédita entre altas autoridades portuguesas. O acordo ortográfico, assinado em Lisboa em 1990, começou a ser aplicado em 2009 no Brasil e, em Portugal, tem período de adaptação até 2015, durante o qual serão aceitas as duas grafias. Nos documentos do Estado, em escolas e serviços públicos, a adoção portuguesa começou em janeiro, seguindo o exemplo de imprensa e editoras, que já o faziam.
Consonantal
Ao programa Política Mesmo, da TVI24, Viegas defendeu em fins de fevereiro que "a ortografia poderá ser corrigida" nos próximos três anos. Segundo ele, é preciso "aperfeiçoar o que há para aperfeiçoar", pois o processo "não foi bem encaminhado" e foi decidido "à última da hora". Cada português poderá, até lá, "escolher a ortografia que prefere", pois "não há polícia da língua". Viegas admite que o problema se concentra nas palavras de dupla grafia e nas sequências consonantais. A regra seria evidência, avalia ele, de que o acordo desagrega quando deveria unir, criando divergências que antes não havia, como a eliminação de consoantes não pronunciadas. Muitas palavras têm consoantes mudas no português, mas elas nem sempre são as mesmas no Brasil e em Portugal. Assim, "actualidade" vira "atualidade" à brasileira, para ira de nacionalistas lusos, mas "facto" (acontecimento) se mantém, para diferir da pronúncia de "fato" (traje). Os portugueses devem abandonar "recepção", "aspecto" e "espectador", como continuamos a escrever no Brasil, para adotar "receção", "aspeto" e "espetador", porque aqui se pronuncia o c e o p nesses