Vidas Secas

A falta de diálogo entre os personagens de Vidas Secas como fator determinante no processo de marginalização do sujeito.

Por Marcelo Oliano

Este ensaio busca analisar e evidenciar a marginalização causada pela ausência da linguagem em Fabiano e sua Família, no romance Vidas Secas de Graciliano Ramos. Discute-se, assim, a presença da ausência da linguagem na construção sócio cultural dos personagens que pode ser evidenciada tanto no contexto de cultura fechada no qual estão inseridos quanto na cultura aberta que os oprime justamente por não dominarem a linguagem verbal, sobretudo se tomarmos como base a relação existente entre discurso e poder.

INTRODUÇÃO

A produção literária no Brasil dos anos 30 projetou aos poucos a imagem do sertanejo. Nessa mesma época, com a publicação do romance, Vidas Secas, Graciliano Ramos representou esse mesmo sertanejo, porem reduzindo-o a condição de animal evidenciando algo que podemos chamar de fenômeno de emudecimento, escassez de linguagem entre os personagens do romance. São pessoas que apesar de viverem em uma sociedade moderna, propicia para novos avanços e descobertas, vivem por outro a opressão de um ambiente hostil, lidam com uma cultura fechada, com conflitos internos em uma busca incansável pela totalidade do ser, pela sua autonomia. Talvez por esses motivos Fabiano, Sinhá Vitória e seus filhos são personagens calados que se deparam com o desafio de decifrar o mistério dos códigos, dominar o universo dos signos, ou seja, se comunicarem pela linguagem verbal, pelo discurso. Isso mostra que mesmo inconscientemente já intuem sobre “o poder da palavra”, o domínio de uma linguagem como meio essencial de enfrentamento da injustiça social que os marginaliza, e os mantém presos a uma cultura fechada e de ordem circular. Se fizermos um levantamento acerca da teoria do discurso e do romance, veremos que tais personagens encontram-se em uma condição inferior às demais classes sociais não somente