Um caso

UM CASO NA INTERNET “A verdadeira natureza do coração de uma pessoa pode ser percebida na maneira como ela reage ao que não é atraente.”

Fernando Mello levantou-se do banco, endireitando o seu paletó e observou as pessoas fazendo seu caminho através da Avenida Paulista. Ele procurou pela mulher, cujo coração ele conhecia, mas o rosto não; a mulher com a rosa. Seu interesse por ela havia começado 30 meses antes, numa sala de bate-papo da internet. Navegando numa noite fria e chuvosa, ele havia conhecido Júlia, cuja linguagem e forma de escrever demonstravam ser uma mulher culta e inteligente. Sua escrita suave refletia uma alma profunda e uma mente cheia de brilho. Ela vivia na cidade de São Paulo e, frequentemente, conversavam através da internet. Na semana seguinte ele embarcou para um estágio no exterior e durante o ano seguinte, mês a mês eles se conheciam cada vez mais, sempre via internet. Cada contato era uma semente caindo num coração fértil. Um romance de companheirismo. Fernando pediu uma fotografia, mas ela recusou. Ela sentia que se ele realmente estivesse sendo verdadeiro, não se importaria como ela era, ou sua aparência. Finalmente chegou o dia em que ele retornou da Europa e então marcaram seu primeiro encontro – 7h da noite na Livraria Cultural da Av. Paulista. “Você me reconhecerá” ela escreveu, “pela rosa vermelha que estarei usando na lapela”. Então, às 7h, ele estava na livraria, procurando por uma mulher cujo coração ele amava, mas cuja face ele nunca havia vistoUma jovem aproximou-se de mim. Sua figura era alta e magra. Seus cabelos loiros caíam atrás de suas delicadas orelhas, seus olhos eram azuis como flores. Seus lábios e queixos tinham uma firmeza delicada e seu traje verde pálido era como se a primavera tivesse chegado. Eu me dirigi a ela, inteiramente esquecido de perceber que ela não estava usando uma rosa. Como eu me