surdos
Trecho extraído do texto “Indigência e Arte” (Fernando Pessoa)
O obscurecimento do mundo corresponde à perda do sentido do original das coisas, do descobrimento conjuntural de sua verdade. Mundo não significa aqui nenhum conceito ou categoria científica, seja cosmológica ou cosmonáutica, geo ou topográfica, eco ou biológica, física ou astrofísica; mundo aqui não é o planeta Terra. “Mundo é sempre mundo espiritual”1. Para Heidegger, mundo é a constituição histórica e existencial da realidade, estruturada nos nexos significativos dos entes. O ente nunca aparece isolado nele mesmo, mas sempre se mostra articulado na totalidade significativa de seu mundo. Essa totalidade constitui a compreensão do que as coisas são; só sabemos, por exemplo, o que é uma televisão em um mundo tecnológico, no qual há eletricidade, emissão e captação de ondas aparelhos de filmar e reproduzir imagens, e toda a parafernália que, mesmo sem nunca ser ensinada, todos desse mundo compreendem. Por mais sábios que foram, por exemplo, Sócrates, Platão, Aristóteles, Agostinho, Descartes, Kant, Hegel, Nietzsche, eles não sabiam ligar uma televisão – o mundo deles era outro. Tudo que compreendemos está inserido em uma trama de sentidos, uma composição de nexos significativos, sempre estruturada e reestruturada historicamente. O mundo é sempre histórico.
E existencial. O mundo não é algo pronto, uma coisa já feita; ele se compõe no interesse de cada visão (circunvisão). Uma pedra, por exemplo, na visão de um pedreiro, é para construir; já para o geólogo, ela é para estudar; ao pintor, ela é para