Psicologia
Sobre luto e melancolia: uma reflexão sobre o purificar e o destruir
Elisa Maria de Ulhôa Cintra1
Resumo: Inspirada em “Luto e melancolia” de Freud a autora pesquisa, neste artigo, a questão: O que torna possível entrar em um processo de luto e o que leva ao luto impossível da melancolia?
As violentas auto-recriminações do melancólico são ilustradas pelo filme Shutter Island – Ilha do Medo, de Martin Scorsese. As teorias de um superego primitivo de Melanie Klein e a ideia de uma capacidade de se preocupar com o outro de Winnicott são evocadas durante esta reflexão.
Palavras-chave: luto; melancolia; Freud; Melanie Klein; Winnicott.
Introdução
A subjetividade humana é um feixe de temporalidades diferentes. A vida transcorre em transformação; decrescendo, o exterior desaparece para dar lugar a uma construção interior, a um feixe de memórias conscientes e inconscientes, próximas e distantes. O bloco mágico (Freud, 1925/1976e) é um brinquedo de criança onde é possível inscrever marcas que podem ser apagadas quando se levanta o filme de celulóide onde foram registradas. A consciência pode ser comparada à folha de celulóide que se desembaraça do vivido para que as novas marcas possam se inscrever. Fazer o luto do corpo infantil e adolescente, dos primeiros amores, das casas e cidades onde vivemos é um processo psíquico do qual depende a saúde física e psíquica. O que torna possível entrar em processo de luto e o que leva ao luto impossível da melancolia? O que leva o trabalho de Eros a desorganizar-se deixando predominar a dinâmica desobjetalizante de Thanatos? São estas questões que me norteiam no imenso campo de idéias nascidas, nos últimos cem anos, das obras de Freud, Melanie
Klein, Winnicott e muitos outros.
A proposta é escutar o que dizem esses autores sobre o luto e a melancolia, para reencontrar aí os cruzamentos fecundos, as raízes, os desdobramentos de uma obra sobre