SUJEITOS E LUGARES DO CONHECIMENTO
Adilson Schultz
1. Maiêutica Socrática Versus Curva de Nível:
O JOGO DE PODER DA EDUCAÇÃO
Para começar a aula sobre sujeitos e lugares do conhecimento, leia atentamente um trecho do livro “Pedagogia da Esperança”, do pensador e educador Paulo Freire. Trata-se de um instigante diálogo acontecido entre o autor e um grupo de camponeses chilenos. Paulo Freire conta que ele fora visitar um assentamento de Reforma Agrária no Chile, onde um amigo educador atuava no que chamavam “círculos de cultura”, processos coletivos de “leitura da palavra e de re-leitura do mundo”. O diálogo que ele teve com os camponeses muito nos ensina sobre sujeitos e lugares do conhecimento.
Pedindo licença ao educador que coordenava a discussão do grupo, perguntei a este se aceitava uma conversa comigo.
Depois da aceitação, começamos um diálogo vivo, com perguntas e respostas de mim e deles a que, porém, se seguiu, rápido, um silêncio desconcertante.
Eu também fiquei silencioso.
[... até que]
_ “Desculpe, senhor”, disse um deles, que estivéssemos falando. O senhor é que podia falar porque o senhor é o que sabe. Nós, não.”
Quantas vezes escutara esse discurso em Pernambuco e não só nas zonas rurais, mas no Recife também. (...)
O que não teria sentido é que eu ‘enchesse’ o silêncio do grupo de camponeses com minha palavra, reforçando assim a ideologia que já haviam explicitado. O que eu teria de fazer era partir da aceitação de alguma coisa dita no discurso do camponês, problematizando-os, trazê-los ao diálogo de novo. (...)
_ ‘Muito bem’, disse em resposta à intervenção do camponês. Aceito que eu sei e que vocês não sabem. De qualquer forma, gostaria de lhes propor um jogo que, para funcionar bem, exige de nós absoluta lealdade. Vou dividir o quadro-negro em dois pedaços, em que irei registrando, do meu lado e do lado de vocês, os gols que faremos eu, em vocês; vocês, em mim. O jogo consiste em