religies afro-brasileiras
As religiões afro-gaúchas
Ari Pedro Oro
Pode causar estranheza para alguns a afirmação de que o Rio Grande do Sul é um dos estados brasileiros em que as religiões afro-brasileiras detêm maior longevidade, maiores número de terreiros e maiores números de indivíduos que, em termos proporcionais, se declaram ertencentes a essas religiões. A surpresa resulta do fato de o Rio Grande do Sul produzir sobre si mesmo uma auto-imagem, com repercussões para fora dele, de ser um estado branco, habitado por imigrantes europeus e gaúchos, ofuscando e mesmo excluindo os negros e os índios, dois grupos étnicos que historicamente prestaram inestimável contribuição para a construção da riqueza desse estado(OLIVEN, 2006).
Os afro-descendentes constituem hoje parcela significativa dos habitantes deste estado (cerca de 14%), e têm a ele dado importante contribuição sociocultural. Além de centenas de palavras, em sua maioria Banto, incorporadas em nosso vernáculo (LAYTANO, 1936) e de manifestações sociorreligiosas como o Moçambique de Osório, o Quicumbi de Rio Pardo e os Ensaios de Mostardas (FERNANDES 2004); expressões religiosas de matriz africana integram o campo religioso do estado e têm atraído indivíduos de todas os grupos étnicos e de todas as camadas sociais.
Pode-se mesmo falar da existência de religiões afro-gaúchas, as quais constituem um complexo formado por diferentes manifestações religiosas, com destaque para o Batuque, a Linha Cruzada e a Umbanda. Há termos genéricos para se referir a elas, uns advindos de fora desse campo religioso, sendo, por isso mesmo, portadores de certo preconceito, como saravá” e “macumba”, e outros empregados no interior do campo religioso, como simplesmente “religião”, “povo de religião”, “nação”.
Iniciemos pelos números para depois analisarmos as diferentes expressões religiosas afro-gaúchas.
Alguns números das religiões afro-gaúchas
Relativamente aos números que conformam o campo afro-religioso gaúcho há ainda lacunas estatísticas