Poesia

496 palavras 2 páginas
Herança
Autoria: Apparicio Silva Rillo
Naqueles tempos, sim, naqueles tempos as casas já nasciam velhas.
Naqueles tempos, sim, naqueles tempos, sim, naqueles tempos as casas já nasciam velhas.
Eram uma casas cálidas, solenes sob as telhas portuguesas, maternais.
Em pálidos azuis eram pintadas e em brancos, em ocres e amarelos.
Algumas nem mesmo tinham reboco. Na carne dos tijolos mostravam-se nuas, abertas em janelas que espiavam da sombra verde para o sol das ruas.

Naqueles tempos, sim, naqueles tempos tinham balcões e sacadas essas casas e úmidos porões e sótãos com fantasmas.
E tinham jasmineiros sobre os muros e acolhedoras latrinas de madeira disfarçadas entre as plantas dos quintais.
E laranjeiras e galos e cachorros um barril barrigudo cheio d'água e uma concha de lata para a sede.
Nas varandas que eram frescas e abertas a moleza da sesta numa rede...

Naqueles tempos, sim, naqueles tempos as portas eram altas e alto o pé-direito das salas dessas casas.
Mas eram simples as pessoas que as casas abrigavam.
Os homens chamavam-se Bento, Honorato, Deoclécio, as mulheres eram Carlinda, Emerenciana, Vicentina.
Os homens usavam barbas e picavam fumo em rama, as mulheres faziam filhos, bordados e rosquinhas.
Os homens iam ao clube, as mulheres À missa, e homens e mulheres aos velórios.
Morriam discretamente e ficavam nos retratos.

Naqueles tempos, sim, naqueles tempos a igreja tinha santos nos altares e havia mulheres rezando ao pé do santos.
O padre usava uma batina cheia de manchas e botões, batizava crianças, encomendava os mortos, rezava a missa em latim: "Agnus Dei"... e comia cordeiro gordo na mesa do intendente.
Os homens ajudavam nas obras da igreja,

mas acreditavam mais nas armas que nos santos.

Naqueles tempos, sim, naqueles tempos os chefes eram chamados "coronéis".
Ganhavam seus galões debaixo da fumaça em peleias a pata de cavalo, garruchas de um tiro só e espadas de bom aço.
As mulheres

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