Magisterio
O amor nos condena: demoras mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.
Espero-te antes de haver vida e és tu quem faz nascer os dias.
Quando chegas já não sou senão saudade e as flores tombam-me dos braços para dar cor ao chão em que te ergues.
Perdido o lugar em que te aguardo, só me resta água no lábio para aplacar a tua sede.
Envelhecida a palavra, tomo a lua por minha boca e a noite, já sem voz se vai despindo em ti.
O teu vestido tomba e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu, um rio se vai aguando até ser mar.
Mia Couto, in " idades cidades divindades"
Para Ti
Foi para ti que desfolhei a chuva para ti soltei o perfume da terra toquei no nada e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras e todas me faltaram no minuto em que talhei o sabor do sempre
Para ti dei voz às minhas mãos abri os gomos do tempo assaltei o mundo e pensei que tudo estava em nós nesse doce engano de tudo sermos donos sem nada termos simplesmente porque era de noite e não dormíamos eu descia em teu peito para me procurar e antes que a escuridão nos cingisse a cintura ficávamos nos olhos vivendo de um só amando de uma só vida
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
Destino à ternura pouca me vou acostumando enquanto me adio servente de danos e enganos
vou perdendo morada na súbita lentidão de um destino que me vai sendo escasso
conheço a minha morte seu lugar esquivo seu acontecer disperso
agora que mais me poderei vencer?
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
Horário do Fim
Morre-se nada quando chega a vez
é só um solavanco na estrada por onde já não vamos
morre-se tudo quando não é o justo momento
e não é nunca esse momento
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
TRABALHO
DE
PORTUGUÊS
Componentes: Larissa Gabriele 18