Etnobiologia
5. A etnoecologia: o estudo da sabedoria tradicional Nas últimas seções oferecemos uma síntese apertada dos avanços logrados pela ciência acerca do conhecimento tradicional ou local sobre a natureza. Sem dúvida, o enfoque adotado na maioria dos estudos é limitado, porque aborda o fenômeno cognitivo fora do contexto cultural desses povos, e porque parte de um pressuposto falso: que as formas de conhecimento pré-industriais existem, como no caso da ciência, separados das outras dimensões da vida cotidiana. As reflexões teóricas e metodológicas e as aprendizagens empíricas realizadas pelos autores durante quase três décadas (Toledo 1992, 2001, 2002, Barrera-Bassols
2000, 2008, Toledo & Barrera-Bassols 2008) promoveram o surgimento de um novo enfoque, isto é, a etnoecologia, baseado na pressa de que os conhecimentos tradicionais na realidade fazem parte de uma sabedoria tradicional, que é o verdadeiro núcleo intelectual e prático por meio do qual essas sociedades se apropriam da natureza e se mantêm e se reproduzem ao longo da história.
Para compreender de maneira adequada os saberes tradicionais, é então necessário entender a natureza da sabedoria local, que se baseia em uma complexa inter-relação entre as crenças, os conhecimentos e as práticas. A natureza se concebe, valoriza e representa sob seus domínios visíveis e invisíveis. As sabedorias tradicionais se baseiam nas experiências que se têm sobre o mundo, seus feitos, e significados, e sua valorização de acordo com o contexto natural e cultural onde se desdobram. Os saberes
(ambientais) são então uma parte ou fração essencial da sabedoria local.
Hoje, parece claro que os saberes locais, para ser corretamente compreendidos, devem ser analisados em suas relações tanto com as atividades práticas como com o sistema de crenças do grupo cultural ao que pertencem (Berkes 1999). Do contrário se cai no erro de realizar uma compreensão descontextualizada dos ditos