Criatividade

Certo dia, o Homem-Aranha, cansado da sua vida de super-herói, decidiu tornar a sua existência comum à dos simples mortais. Sentia-se fraco de tanto lutar para salvar a cidade e de não ter tempo para ser ele próprio, um mortal que dispara teias e trepa paredes.
Ser super-herói deveria ser um trabalho com hora de entrada e de saída, do qual advém a obrigatoriedade de pagar o IRS, pensava ele. Na realidade não era assim. Trabalhava em prol da segurança de todos os que habitavam na cidade, mas não tinha horários nem rendimentos. Trabalhava quando era necessário. Ocasionalmente, atuava vezes sem conta durante um dia, noutras alturas, ficava semanas a fio sem tocar no seu fato. O Homem-Aranha queria que a sua vida fosse semelhante a de todos os outros, com a particularidade de ter um emprego diferente. Deste modo, o seu trabalho deveria ser remunerado, contudo, não o era. Ter poderes únicos e especiais é possuir o dom para pôr de lado a sua vida pessoal em detrimento do bem comum. Ele bem compreendia isso mas, muitas vezes, apetecia-lhe sair à noite sem ser para ajudar a polícia no combate ao crime. Uma vez que trabalhava gratuitamente, desejava ter um dia repleto de novas aventuras e ignorar durante algum tempo a sua consciência; com efeito, ansiava por um dia simplesmente normal em que pudesse ir às compras, beber uma gasosa e, para o dia terminar em grande, beijar umas miúdas.
Esse dia teria de esperar. Ainda não era a altura que conseguiria concretizar o seu desejo. O crime não dorme e o dever, mais uma vez, chama por