O que é Sociologia - MARTINS, Carlos B. (Cap. I e II)

INTRODUÇÃO

A sociologia, no que toca seu teor de análise, sempre gerou opiniões extremamente contraditórias e divergentes. De um lado, acredita-se constituir poderosa arma a serviço dos interesses dominantes; de outro, ser a máxima expressão teórica dos movimentos revolucionários. Nesse diapasão, o livro procura abordar a sociologia dentro de um contexto histórico, situando-a como o resultado de uma tentativa de compreensão de situações sociais radicalmente novas, criadas pela nascente sociedade capitalista. Além disso, reconhecer que a sociologia sempre postulou mais do que apenas reflexões sobre a sociedade moderna, apresentando reflexões com acentuadas intenções práticas e um forte desejo de interferir no rumo da civilização, fato que lhe atribuiu ao longo dos anos uma dimensão política notadamente marcante.

CAPÍTULO PRIMEIRO: O SURGIMENTO

As implicações das descobertas de Copérnico e da comunidade científica em geral, bem como o desenvolvimento do mercantilismo, vinham, desde o Século XVI, acarretando implicações no seio social e científico que contribuíram para a futura delineação da sociologia como ciência. Dois eventos, contudo, contribuíram enormemente e de maneira direta para o surgimento da nova ciência social: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. A Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra na segunda metade do Século XVIII, acarretou diversas transformações sociais que mudaram o rumo da vida dos camponeses. Inicialmente, devido aos enclosures, ocorreu uma massiva migração de mão-de-obra camponesa para as cidades a um ritmo extremamente rápido, fato que ocasionou um grande boom demográfico. Além disso, a rotina vivida nas cidades era completamente diferente dos laços de servidão vividos no campo: trabalhava-se até doze horas por dia para ganhar salários de subsistência, as crianças e mulheres passaram a trabalhar nas fábricas e o padrão familiar tradicional foi quebrado. Todas estas transformações tiveram um impacto