O homem Cordial

O Homem Cordial – Sérgio Buarque de Holanda

O Estado não é uma ampliação do círculo familiar, eles pertencem a ordens diferentes em essência. Há aqui um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material, do abstrato sobre o corpóreo. Em todas as culturas o processo no qual a lei geral suplanta a lei particular acarreta crises mais ou menos graves e prolongadas, e o estudo dessas crises constitui um dos temas fundamentais da história social. Foi o moderno sistema industrial que, separando os empregadores dos empregados nos processos de manufatura e diferenciando ainda mais suas funções, suprimiu a atmosfera de intimidade que reinava entre uns e outros e estimulou os antagonismos de classe. Diante disso, o empregado transforma-se em apenas um número e assim a relação humana desapareceu.
O autor faz uma comparação da relação humana existente no processo de produção antigo e moderno. No antigo havia uma relação de “mestre – aprendiz”, onde ambos trabalhavam na mesma sala usando os mesmos instrumentos e as relações eram pessoais e diretas, o que não ocorre na produção moderna, onde, como já foi dito, o empregado é apenas um número e há uma enorme hierarquia de funcionários.
Além disso, o autor fala que a crise que acompanhou a transição do trabalho industrial nos mostra uma ideia das enormes dificuldades que acometeram a abolição da velha ordem familiar por outra , em que as relações e instituições sociais, fundadas em princípios abstratos, tendem a substituir os laços de afeto e sangue. Essas famílias pertencentes a velha ordem familiar tendem a desaparecer mediante as exigências imperativas das novas condições de vida. De acordo com pedagogos, a educação familiar é apenas uma espécie de ensinamento para a vida na sociedade. E as teorias modernas tendem a separar o individuo da comunidade doméstica, ou ainda liberta-lo das “virtudes” familiares. “Dir-se-á que essa separação e libertação representam as condições primárias e obrigatórias de