A gramática segundo Evanildo Bechara
São dois os conceitos: Gramática descritiva, disciplina científica, que tem por objetivo registrar e descrever um sistema linguístico em todos os seus aspectos (em todas as suas variedades), sem pretender recomendar um modelo exemplar. Gramática normativa ou prescritiva, que por seu turno, tem por finalidade de didática recomendar um modelo de língua, assinalando as construções “corretas” e rejeitando as “incorretas”, ou não recomendadas pela tradição culta.
A primeira disciplina mostra “como a língua funciona”, e a segunda “como a língua deve funcionar”, segundo os tipos de sua exemplaridade idiomática. Para Evanildo Bechara, a norma não pode ser uniforme e rígida. Ela é elástica e contingente, de acordo com cada situação social específica. O professor não fala em casa como na aula e muito menos numa conferência. O deputado não fala na rua, ao se encontrar com um amigo, como falaria numa sessão da Câmara. Ele nos lembra da dicotomia língua transmitida, é aquela primeira que recebemos do meio social e familiar em que nascemos e nós desenvolvemos, assentada no dialeto regional, com seu sotaque particular, seu vocabulário e expressões peculiares, sua morfologia e sintaxe locais, tudo aprendido por tradição oral. Já a língua adquirida é aquela que nos vem pela necessidade cultural e social quando, concomitantemente ou não, penetramos num estrato mais largo da vida nacional.
Mais recentemente nos chegou, em geral por via da sociolinguística, a lição correta de que são válidas e merecem ser estudadas todas as variedades diastráticas da língua histórica, ao lado das variedades diatópicas e diafásicas. A seguir, dado o privilegiamento, natural pelos seus objetivos pedagógicos, da língua comum culta, começou entre nós um exaltado privilegiamento da variedade popular, sob a alegação de que se procurava combater o chamado “preconceito linguístico”. O movimento ganhou corpo e adeptos, penetrou na