Weber - o desencantamento do mundo
(Capítulo do livro Em busca da boa sociedade, por Selene Herculano. Niterói: Eduff, 2006).
"Ninguém sabe se, ao término desta extraordinária evolução [do capitalismo] surgirão profetas novos e se assistirá a um pujante renascimento de idéias e ideais ou se, ao contrário, o envolverá toda uma onda de petrificação mecanizada e uma luta convulsa de todos contra todos. Neste caso, aos últimos homens desta fase da civilização pode-se aplicar esta frase: especialistas sem espírito, gozadores sem coração." Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
Max Weber (1864 - 1920) foi quem lançou as bases da Sociologia do Significado (verstehen Soziologie), pondo seu foco de estudo na construção dos valores, nas expectativas e motivações que norteiam as ações sociais humanas. Nascido de pai protestante e mãe católica, Weber experimentou no seio da família os conflitos de valores religiosos. Em 1918 foi um dos fundadores do Partido Democrático Alemão e assessor da delegação alemã signatária do Tratado de Versalhes. O contexto social de Weber foi marcado pela atuação de Bismarck, Chanceler do Império Germânico (1862 – 1890), pelo militarismo e pelo movimento romântico Sturm und Drang (Tempestade e Tensão). A sociologia weberiana entre nós foi objeto de certa má-vontade por parte dos adeptos das correntes marxistas, que têm sido até aqui hegemônicas na sociologia brasileira. Esta má-vontade se deu, penso, não tanto pelas críticas de Weber ao enfoque marxista, quanto pelos usos e adaptações que Weber sofreu pela sociologia norteamericana, no contexto da guerra fria, quando se tratava de dar ênfase a um autor com uma bagagem e uma envergadura suficientes para fazer frente a Marx. É verdade, como
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veremos, que suas matrizes teóricas são bem diferentes, mas não são excludentes. Tanto não o são que a Escola de Frankfurt1 apoiou-se em ambos ao elaborar suas críticas à sociedade moderna. Dentre as simplificações,