Tocqueville E As Revolu Es Modernas
DEMOCRACIA NA AMÉRICA
Em seus mais importantes livros, A democracia na América e O Antigo Regime e a
Revolução, Tocqueville, nostálgico do “mundo vencido pela Revolução Francesa”, deparando-se com a “inevitável marcha para a igualdade”, traz para o centro de seu pensamento o esforço incessante de atrelá-la à concepção aristocrática de liberdade. Ao nosso ver, o subtítulo mesmo da obra em que analisa a “Revolução Americana”, leis e costumes, traduz o seu objetivo de impedir o total desaparecimento do Antigo Regime, através de uma legislação e da manutenção dos valores inerentes ao mundo aristocrático, ameaçado com o avanço da igualização de condições. Embora defenda a democracia na
América, está a todo momento apontando para os seus defeitos ou abusos. Ele aceita a sua existência como um fato histórico consumado, pensando apenas em corrigi-la, ou está denunciando-a como um governo que deve ser extinto? Nas suas palavras, desvela-se o seu apreço e ao consentimento do povo ao domínio da nobreza inerente à “ordem imutável da natureza” :
Situados a uma distância imensa do povo, os nobres tinham no entanto, pela sorte do povo, essa espécie de interesse benevolente e tranqüilo que o pastor denota por seu rebanho; e, sem ver no pobre seu igual, velavam por seu destino, como se fosse um depósito posto pela Providência em suas mãos.
Não tendo concebido a idéia de outro estado social além do seu, não imaginando que pudesse igualar-se a seus chefes, o povo recebia as benfeitorias deles e não lhes discutia os direitos. Amava-os quando eram clementes e justos, submetiam-se sem custo e sem baixeza a seus rigores, como se fossem males inevitáveis que o braço de Deus lhe enviara. Aliás, o uso e os costumes haviam estabelecido limites à tirania e fundado uma espécie de direito no próprio âmbito da força1.
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TOCQUEVILLE, Alexis de. A Democracia na América. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p.13.
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Ao seu ver, na