Retórica e o antigo conceito de história
Ainda na mesma época, mas escrevendo algum tempo após a publicação do tratado ciceroniano, Salústio também prestou veneração aos historiadores gregos. Durante o relato da Conjuração de Catilina, o autor reconhece a grandiosidade dos feitos dos helenos, mas destaca a capacidade dos escritores gregos para imortalizar aqueles acontecimentos na memória “como se fossem os maiores”. “É por isso (...)”, continua Salústio, “(...) que o mérito dos grandes homens se equipara ao brilhante talento dos que souberam enaltecê-lo com suas palavras.” (SALÚSTIO, 1990, pp. 99-101)
Contemporâneos na mesma cidade, rivais nos assuntos públicos, os dois escritores romanos mencionados até aqui concordavam em algumas questões. Uma delas dizia respeito à falta de habilidade dos latinos em dar aos acontecimentos do passado o tratamento devido. Nas palavras de Salústio, “os melhores cidadãos preferiam [...] ter seus feitos exaltados por outras pessoas a ter que narrar eles próprios os feitos dos outros”. (SALÚSTIO, 1990, p. 101) Cícero também lamentava o fato de os oradores mais inteligentes da república preferirem gastar sua eloquência somente para conseguir grandes ações no fórum.
Outra relação possível de ser estabelecida entre os dois foi que Salústio tornou realidade a maneira de contar história idealizada por Cícero nos seus escritos. Segundo Renato Ambrósio:
“Cícero deu uma