resumo do livro
A família é, como gostam de dizer os sociólogos e os historiadores, a "célula básica" da sociedade. Quase todos os modelos de carro, por exemplo, têm cinco lugares, e os apartamentos, em geral, no máximo três quartos - tudo feito sob medida para um casal com dois ou três filhos. "Esse padrão prevaleceu nos últimos séculos e se tornou importante justamente por ser um padrão: todo mundo queria seguir a regra. Era como o carro do ano, todo mundo queria ter um", explica o psicólogo Jadir Lessa. E o desejo por formar uma família tinha muito pouco a ver com amor ou mesmo com instinto paternal: "antigamente, as crianças eram criadas de qualquer jeito, cresciam soltas. Eu diria que esse tipo de preocupação começou a aparecer nos últimos 200, 300 anos". Bom exemplo disso é o filósofo suíço Jean-Jaques Rousseau, que ficou famoso por defender que o ser humano é fundamentalmente bom. Rousseau abandonou seus cinco filhos num orfanato, no século 17 - e, vale lembrar, não achou que isso fazia dele uma pessoa necessariamente ruim.
Para a psicóloga Lulli Milman, mesmo hoje ter filhos continua sendo um movimento egoísta: "Você escolhe o companheiro e os amigos por amor, mas os filhos, não. Você não conhece o filho quando engravida. A ideia por trás da paternidade é a da continuidade, é o fazer vida em oposição à morte iminente". Uma pesquisa feita nos Estados Unidos em 2010 elencou as razões pelas quais 770 homens e mulheres resolveram ser pais. O resultado foi, por ordem de importância: a felicidade por ter uma criança; o desejo do(a) companheiro(a); o fato de que o casal tinha recursos financeiros suficientes; razão nenhuma, simplesmente aconteceu; a segurança de ter alguém na velhice e, por último, a pressão da família. O resultado, de certa forma, coincide com a teoria do filósofo francês Luc Ferry (que, diferente de Rousseau, não abandonou filho nenhum) no livro Famílias, Amo Vocês (Objetiva). Para Ferry, os filhos acabaram eventualmente assumindo o lugar das