RESSUREI O
A emergência do mundo burguês na Rússia do séc. XIX, suas contradições e embates frente à derrocada do mundo aristocrático.
Autor e suas circunstâncias
Liev Tolstói (1828-1910) é provavelmente o escritor Russo mais lido de todos os tempos. As obras mais famosas do escritor são “Guerra e Paz” (1860) que descreve a invasão napoleônica da Rússia e “Ana Kariênina” (1870), extensa história de amor com diversas adaptações para o teatro e cinema. Os livros de Tolstói eram publicados livremente por toda a Europa: por opção ideológica o autor renunciou a todos os seus direitos autorais, de maneira que muitos problemas de tradução e edição grosseiras implicaram em diferentes recepções dos textos. Enquanto as cenas de sexualidade de Ana Kariênina foram ressaltadas nas edições francesas, nas publicações norte-americanas muitas cenas de amor foram suprimidas.
Ainda assim, seu reconhecimento público deu-se em vida, algo raro, o que lhe garantiu provavelmente a liberdade: prendê-lo acarretaria em desgaste político da autocracia russa diante de todo o mundo e particularmente da Europa “ilustrada”.
Vale destacar, aqui, contexto político da Rússia naquele momento histórico – algo que está bastante presente no texto do autor. O império era dirigido por elites políticas em transformação acelerada: a contradição central que impulsiona a mudança refere-se à exigência de sustentar regime político monárquico, centralizador, opressivo e com ranços medievais convivendo com a influência do pensamento liberal da Europa, da pressão por reformas políticas diante das revoluções liberais do séc. XIX e de organizações revolucionárias ou consideradas “subversivas”. Dentre estas últimas se destacam os jovens revolucionários do “Narodniks”– presentes em Ressurreição – que defendem o fim da propriedade privada no campo e radical distribuição de renda; pequenas seitas religiosas cristãs como os “dukhobors” – em russo, “lutadores do espírito” – que desafiam as