lucia

Lúcia

Antes de qualquer coisa, gostaria de deixar claro minha inocência e o quão injusta será minha morte. Não entendo porque sou chamado de louco desalmado e outros adjetivos nada agradáveis. Ora, eles não me conhecem para tirar tais conclusões sobre mim! Apenas uma criatura me conheceu de verdade, essa que agora jaz morta num sepulcro bem no meio de um campo florido.
A cela na qual me encontro é pequena e com uma atmosfera extremamente deprimente. Contudo, há algo nessa cela com a qual posso desenfadar-me: A janela. Esse pequeno quadrado no alto da parede não mede mais que 30 centímetros de largura e, para impedir uma possível fuga, foram postas colunas de metal entre as duas extremidades. É graças a esse espaço que a luz entra em minha cela, trazendo-me conforto e fazendo-me lembrar de minha amada... Ah, minha Lúcia! Quanta saudade tu me traz! Se há alguém quem deveria pagar, esse alguém era Deus e não eu.
Todas as noites, um policial vinha me trazer um pão dormido e um copo de suco, hoje não foi diferente. Assim que o sol se pos, recebi em minha cela tal alimentação. Primeiro comi o pão, não deixando sobrar nem uma migalha sequer – não se pode ter esse capricho quando está preso –, depois agarrei o copo, mas ao olhar dentro dele uma lembrança invadiu-me e não consegui conter minhas lágrimas desesperadas. ‘Caem as folhas tontas de sono, e pelo ar voando vão a procura do regaço morno de outono, ou de algum coração’, esses eram os versos escritos pela minha amada. Agarrei-me ao copo de suco de laranja e chorei até adormecer, revivendo em meu sonho os momentos mais felizes que já vivi.
Era final de Setembro, e as folhas alaranjadas caiam das árvores e dançavam no vento, até finalmente encontrarem o chão e repousarem. Eu ia andando pela estrada em direção ao armazém, a fim de comprar os produtos escassos em casa. Estava mergulhado em pensamentos quando fui interrompido por um pranto baixinho vindo das árvores. Virei-me para verificar e lá, quase camuflada