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MAURA LOPES CANÇADO: A ESCRITA COMO LIBERDADE DA LOUCURA

Helga Maria Lima da Costa1

De homem a homem verdadeiro, o caminho passa pelo homem louco. Michel Foucault

A escrita, como as demais invenções humanas, faz parte de um ciclo que surgiu para satisfazer necessidades emergenciais. A escrita se tornou um processo inerente à evolução da sociedade e do homem, além da preservação do conhecimento, uma oportunidade de conservar a história e manter viva a memória. O registro configurou-se como uma ferramenta de afirmação de identidade, pois o homem habituou-se a reconhecer a própria existência como base da memória , marcando ou demarcando sua trajetória. Através da literatura, a força da representação torna-se mais forte e os gêneros autobiográficos surgem com o desejo de retratar, por meio da linguagem escrita a essência humana, carregada de duplicidades e nuances e por que não falar de loucura? O despontar da escrita do “Eu” aconteceu no início do século XX, apesar do seu real aparecimento datar do século XVIII. Através desse retomar da escrita do eu é que um grande número de pessoas se interessa, pois assim descortina os escritos íntimos e pessoais, abrindo-se um universo de curiosidades. Como afirma Maciel (2004, p.58): “O instinto autobiográfico é tão antigo quanto a escrita, ou melhor, é tão antigo quanto o desejo humano de registrar vivências”. A autobiografia relatam as experiências reais e o registro da realidade do eu. A escrita pessoal está associada ao contexto histórico-social da época na qual foi escrita, trazendo informações importantes sobre o período na qual está inserida, não somente informações do eu que escreve, mas muitas vezes do coletivo. Lacerda (2000) afirma que a memória individual dialoga com o coletivo redimensionando a realidade passada. Desse modo, as lembranças apoiam-se em fatos e acontecimentos sociais e culturais expandindo os aspectos da história brasileira. É vasto o universo da