Curri

"(...) e coloquei o curriculum vitae em cima da cama. É a terceira entrevista a que vou nesta semana. E ainda nem é quarta-feira! Há cinco meses que o ritual se repetia. Desde que terminei a licenciatura em Julho que envio currículos e cartas de apresentação praticamente todos os dias. As poucas empresas que me respondem e que, normalmente, me agendam uma entrevista de emprego, posteriormente, não se mostram interessadas em contratar-me. 30, 40, 50..., a quantas entrevistas já fui desde que terminei o curso? Há semanas em que chego a ter mais de duas no mesmo dia. Não compreendo porque é que não consigo encontrar um único emprego, um único trabalho, um único estágio profissional, um único estágio curricular, um único estágio não remunerado. Nada! Fui uma das melhores alunas da turma. Elogiada por professores, invejada por colegas. Durante três anos esforcei-me para dar o seu melhor, para concluir o curso com sucesso e encontrar um emprego com um salário que respondesse às minhas expectativas. Três anos de noites mal dormidas! Três anos de fins-de-semana fechada em casa a estudar! Três anos de directas para os exames! Três anos de despesas com propinas, transportes, alimentação e material escolar! Três anos a acordar às 5h30 da manhã para apanhar o autocarro, depois o barco, depois o metro! Três anos a estudar para nada! Para quê estudar?! Para quê tirar uma licenciatura que agora não valia para nada?! Antigamente, tirar uma licenciatura era sinónimo de um bom emprego, de um bom salário. Actualmente, era pior do que ter o 12ª ano. Hoje ter um canudo na mão já não é sinónimo de emprego! (...)"

Pós-modernidade, críticas à modernidade, críticas à sociedade

Março