crise da sociologia

XIV Congresso Brasileiro de Sociologia
28 a 31 de julho de 2009, Rio de Janeiro, RJ

O diálogo dos Clássicos: divisão do trabalho e crise da Sociologia

GT: Teoria Sociológica

Flavio Saliba Cunha
Universidade Federal de Minas Gerais

Sociologia fragmentada

A Sociologia encontra-se, hoje, tão fragmentada quanto o seu próprio objeto de análise: a sociedade contemporânea. Tendo se deixado envolver pela secular disputa ideológica, patrocinada, sobretudo por marxistas e weberianos, a Sociologia transformou-se, como sugere Giddens, num reduto de descontentes: dos descontentes com as desigualdades sociais aos descontentes com o próprio casamento. É o desacordo em torno de questões teóricas fundamentais empurrando a disciplina para o campo fácil dos acordos politicamente corretos sobre questões sociais legítimas, mas de duvidosa centralidade sociológica. Tal como observa Dosse em relação à História, a
Sociologia vem se ocupando de múltiplos fragmentos da realidade sem se preocupar em conectá-los em um conjunto racional. O problema que aqui se coloca é o de reconhecer que, mesmo quando metodologicamente rigorosas, poucas são as abordagens micro-sociológicas que têm contribuído para desvendar a lógica de processos sociais, cujas determinações estruturais ainda são objeto de intensas disputas teóricas.
Estes estudos mostram-se, com freqüência, fragmentados e inconclusos, e seus esforços em estabelecer conexões entre o objeto empírico observado e processos sociais mais amplos resultam, na maioria das vezes, em inferências genéricas previamente acordadas no plano ideológico ou no senso comum. O sociólogo contemporâneo tende a abandonar a pesquisa dos sistemas causais contentando-se em apontar “uma ou outra causalidade de maneira mecânica e arbitrária, ao capricho do momento”.1 Veremos mais à frente como este tipo de procedimento decorre da própria ausência de um adequado encaminhamento de questões teóricas fundamentais, relativas aos