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304 palavras 2 páginas
Voltas
Os privilégios que os reis não podem dar, pode Amor, que faz qualquer amador livre das humanas leis.
Mortes e guerras cruéis, ferro, frio, fogo e neve, tudo sofre quem o serve.
Moça fermosa despreza todo o frio e toda a dor
(olhai quanto pode Amor mais que a própria natureza): medo nem delicadeza lhe impede que passe a nove; assi faz quem Amor serve.
Por mais trabalhos que leve, a tudo se ofreceria; passa pela nove fria, mais alva que a própria neve; com todo o frio se atreve; vede em que fogo ferve o triste que o Amor serve

Esse poema de Camões pertence à fase medieval da sua lírica, podemos perceber pelos versos redondilhas (redondilha maior: versos de sete sílabas métricas) e pela presença de um mote na qual o poeta escreve através de voltas, de retornos ao mote.
Ambas as características do poema, no entanto, são acrescidas de uma reflexão sobre o amor, o que é típico de Camões e inovador em relação à tradição medieval por construir um procedimento renascentista.
Esta redondilha faz parte do ciclo da donzela que caminha " descalça" para um determinado lugar (o espaço temporal, agora, é o inverno). O amor da jovem é tão grande e abrasante, que lhe permite vencer qualquer obstáculo, até o de caminhar descalça pela neve fria.

Descalça vai pera a fonte

Descalça vai pera a fonte
Lianor pela verdura,
Vai fermosa e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata.
Cinta defina escarlata,
Sainho de chamalote,
Traz a vasquinha de cote
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa, e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entraçado,
Fita de corencarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa, e não segura.

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