O computador como artefato pol tico
A Tecnologia da Informação tornou o mundo pequeno e, recentemente, ajudou a derrubar ditaduras por meio da organização de pessoas que compartilhavam das mesmas ideias nas redes sociais. Mas quais seriam as implicações do uso dessa mesma tecnologia como ferramenta de dominação?
A História tem provado que artefatos tecnológicos são, por vezes, usados como ferramentas de poder. Winner (2008) aponta diversas tecnologias que foram supostamente concebidas com o objetivo primário de impor autoridade sobre as massas: a mecanização industrial do século 19, cujo maquinário ajudou a extinguir o sindicato local de Chicago; a altura dos viadutos de Long Island, em Nova York, intencionalmente rebaixados para evitar a passagem de ônibus coletivos; uma colhedeira de tomates que eliminou a classe de plantadores na área rural da Califórnia.
O que pode parecer parte de uma teoria de conspiração, contudo, pode ser também a demonstração de que a evolução da tecnologia tem um propósito implícito diferente do evidente aperfeiçoamento de técnicas e dispositivos para a resolução de problemas. Parafraseando Dagnino e Novaes (2008), a visão normal sobre o artefato, em si, é neutra; o que faz a diferença é o emprego que dele se faz. Um exemplo claro seria a utilização de um objeto cortante, como uma faca, em dois contextos distintos: para um cirurgião, tal objeto seria seu instrumento de trabalho, usado para salvar vidas. Para um degolador, o mesmo objeto seria uma ferramenta para ceifar vidas.
As inúmeras aplicabilidades de um computador tornam-o uma ferramenta de identidade híbrida: libertária, na produção e disseminação da informação; autoritária, na imposição de padrões de comportamento, iminente onipresença e vigilância velada. Seu aspecto libertário manifestou-se com o advento da Internet, dos recursos multimídia e a diminuição do seu preço. Antes disso era usado na formação de ilhas de dados com estruturas de alto custo, acessíveis apenas às