A projeção na obra de frida kahlo: “a minha ama e eu”
De acordo com Roudinesco (1998), Projeção é um mecanismo de defesa no qual "o sujeito projeta num outro sujeito ou num objeto desejos que provêm dele, mas cuja origem ele desconhece, atribuindo-os a uma alteridade que lhe é externa". A partir do mecanismo de projeção, o sujeito se defende de uma representação inconciliável com o eu, projetando seu conteúdo no mundo externo. É uma forma de exteriorizar as emoções que se tornaram penosas. Em outras palavras, é uma forma de expulsar os sentimentos ou desejos individuais considerados totalmente inaceitáveis, ou muito vergonhosos, obscenos, perigosos e dolorosos.
Na obra de Frida Kahlo é possível observar que a artista projeta de seu interior para as telas o sofrimento psíquico de suas vivências, retratando em suas pinturas si mesma em situações dolorosas pelas quais passou, como é o caso da obra em questão, intitulada "A minha ama e eu". Sabe-se que Frida não pôde ser amamentada pela mãe e foi entregue aos cuidados de uma ama de leite. A pintura retrata essa situação de desamparo materno, onde é possível notar o distanciamento entre cuidadora e bebê nas feições de Frida e no que diz respeito à falta de contato visual (a ama inclusive está vestindo uma máscara), sentimento de apego, demonstração de carinho e intimidade, transformando a amamentação em um ato quase que mecânico. A obra evidencia o sentimento de inadequação nos primeiros cuidados que esteve presente por toda a sua vida, além de se relacionar com o relacionamento conturbado de Frida com a sua mãe, caracterizado pela frieza e ausência de demonstrações de afeto.
REFERÊNCIAS:
ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar,