A intertextualidade e as diversas mídias em Gota d'água

A INTERTEXTUALIDADE E AS DIVERSAS MÍDIAS EM GOTA D’AGUA.1

Juliana Yuki Rodrigues2

Este artigo apresenta uma leitura da obra Gota d’Água escrita por Chico Buarque e Paulo Pontes. Pretendo abordar a intertextualidade e as diversas mídias que se encontram na obra.
Gota d’Água foi escrita em 1975, e publicada em livro homônimo em 1978 pela editora Civilização Brasileira. A idéia derivou de um trabalho de Oduvaldo Viana Filho, que adaptara a peça grega clássica de Eurípides para a televisão.
A peça não é o primeiro trabalho parafrástico de Chico Buarque, aliás, o autor parece gostar de elaborar textos a partir de textos alheios. O conto Ulisses, de 1966 e Chapeuzinho Amarelo, de 1979 são exemplos de alguns textos parodiados por ele.
A peça é dividida em dois atos e espelha uma tragédia urbana, banal nas favelas do Rio de Janeiro, onde é ambientada. Há três sets: o das lavadeiras, onde as mulheres conversam e contam a história; o set do botequim, onde os homens conversam e lêem o jornal; e o set da oficina do Egeu. A história retrata a vida de dificuldades dos moradores do conjunto habitacional Vila do Meio-dia, que na verdade, servem de pano de fundo para a história de Joana e Jasão. Assim como na peça de Eurípides, Jasão troca a mulher pela filha do rico Creonte, e ela sem suportar o abandono, e também para se vingar, mata os dois filhos e suicida-se. No final, os corpos são levados para Jasão na festa de seu casamento.
A Gota d’Água de Chico Buarque e Paulo Pontes traz a tragédia grega Medéia para o Rio de Janeiro na década de 70, transformando Medéia em Joana e Jasão em um sambista, compositor do samba que intitula a obra. São introduzidos na obra elementos da cultura brasileira – samba, macumba – e o sofrimento de um povo pobre e explorado por Creonte, dono das casas do conjunto habitacional. Aparecem também diversas mídias: musica, dança, rádio e jornal. Aliás, o contexto cultural e social são as maiores transformações no texto de Eurípides,