A cultura do ouvir
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CENTRO INTERDISCIPLINAR DE
SEMIÓTICA DA CULTURA E DA MÍDIA
A CULTURA DO OUVIR
Norval Baitello Junior
Seminários Especiais de Rádio e Áudio - Arte da Escuta - ECO. 1997.2
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O grande autor e especialista em jazz Joachim-Ernst Berendt, foi durante longas décadas diretor da divisão de peças radiofônicas da
Südwestfunk, rádio do estado alemão de Baden-Würtenberg. Todos os apaixonados por rádio, e pelo som, sabem que a peça radiofônica teve
- e ainda tem - uma grande importância, desde os primórdios da radiofonia na Alemanha, mas especialmente no último pós-guerra, quando todas as grandes emissoras de rádio possuíam um departamento só para criação e produção de peças radiofônicas.
Berendt é considerado um dos grandes diretores de peça radiofônica e um dos grandes incentivadores da arte radiofônica, deste tipo de arte literária da radiofonia.
Dentre suas obras mais significativas ,Joachim-Ernst Berendt escreveu e produziu uma série radiofônica chamada “Nada Brahma”, da qual nasceu um livro(i1) , um pequeno livro que eu tenho aqui nas minhas mãos (e que não foi ainda traduzido infelizmente para o português), Nada Brahma, o Mundo é Som.
“Nada”, em sânscrito, significa ‘som’, e Brahma, é um dos deuses da trilogia divina da mitologia e das religiões indianas, ao lado de Vishnu e Shiva. Brahma é um dos três deuses que constituem essa espécie de trindade.
Neste livro, Berendt nos conta uma pequena história, uma lenda persa antiga
que
vou
resumir
a
título
considerações a respeito da Cultura do Ouvir.
de
epígrafe
destas
3
Hafiz, um dos grandes poetas da antiga Pérsia, relata a seguinte lenda: Deus fez uma estátua de argila, dando-lhe a forma segundo sua própria imagem. Em seguida queria que a alma entrasse nessa estatua para dar-lhe vida. Mas a alma não queria ser aprisionada. Pois isto não está na sua natureza que é ser volátil e livre. Ela não