Trabalho Revolução Francesa

Reportagem n.1
Para mulheres afegãs uso da burca garante privacidade e segurança
Afegãs acham que o uso do acessório está longe de ser o pior problema enfrentado no país. As lojas de burcas mostram que séculos de repressão não destroem a vontade das mulheres se verem bonitas e coloridas.
Marcos UchôaAfeganistão

Como se fossem do mesmo time, as mulheres do Afeganistão ficaram famosas no mundo pelo uso da burca, a tenda de pano que faz a mulher desaparecer e é de uso praticamente obrigatório na sociedade afegã, conservadora e machista. No Ocidente, a burca é um símbolo da opressão em relação à mulher, mas as afegãs acham que o acessório traz certa privacidade e, na verdade, a burca está longe de ser o pior dos problemas.
As lojas mostram que séculos de repressão não destroem a vontade das mulheres se verem bonitas, coloridas e poderosas. Há uma variedade de tecidos e vestidos, usados basicamente em festas de casamento, quando as mulheres se exibem em seu esplendor.
Uma senhora afegã que já foi espancada, presa e torturada por defender há 40 anos os direitos das mulheres, afirma que a burca para muitas mulheres é de uso voluntario, porque se sentem mais seguras anônimas. Para ela, a falta de educação, de oportunidades de trabalho, de serviços médicos e sociais é mais grave.
Essa situação gera pobreza e dependência dos homens. Uma mulher mendiga e com o filho no colo é uma cena comum em Cabul. Provavelmente, ela é uma viúva - são mais de 1,5 milhão de mulheres que por conta dos 30 anos de guerra perderam seus maridos.
Desde o fim do Taliban, há dez anos, muitas meninas voltaram às escolas. Mas o casamento é sempre arranjado e a maioria delas é vendida. Existe um dote a ser pago, quando elas têm 15,16 anos - às vezes antes. São muitos filhos e uma vida de trabalho sem parar - mulheres de 30, 40 anos parecem ter 20 anos a mais. Muitas sobrevivem passando horas por dia de frente para a parede, fazendo tapetes e ganhando R$ 80 por mês. O dinheiro vai para os