Segundo a ordem das razões - gueroult

87136 palavras 349 páginas
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DESCARTES Segundo a ordem das razões

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Primeira Parte A ALMA E DEUS

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PREFÁCIO

“Desconfiar desses jogos de reflexão que, sob pretexto de descobrir a significação profunda de uma filosofia, começam por negligenciar sua significação exata”: essa máxima de Victor Delbos foi constantemente a nossa ao escrevermos a presente obra. Ela subordina o “compreender” ao “explicar”. É possível, de fato, imaginarmos compreender sem explicar, quando, crendo compreender a outrem, não fazemos a esse propósito senão compreender a nós próprios. Esta ilusão não deixa de surgir quando a fantasia sobrepuja o entendimento. Satisfazemos então a uma imaginação viva e impaciente que, em vez de prender-se nas malhas estreitas de um texto, nele encontra a ocasião parar alçar livremente seu vôo, deixando para de tempos em tempos voltar a pousar em referências picotadas no rodapé das páginas. Essas generosas efusões, que procedem antes por iluminação do que por estrita análise, podem sem dúvida encontrar aqui e ali alguma verdade, mas como que por um feliz acaso, tal como a mariposa que por azar vem a se chocar com o globo luminoso em torno do qual gira. Se elas podem proporcionar o sentimento do “compreender”, é em proveito de uma doutrina romanceada, onde o romance impõe à doutrina perspectivas e um clima estranho. Sem dúvida, a mudança de gerações, variando incessantemente a luz que esclarece as obras, a cada vez denuncia nelas o relevo de certos pensamentos. Mas esses jogos de luz deixam o monumento intacto. Completamente diferente é a interpretação romanceada que perverte a alma e o estilo, tal como um virtuose que ousasse tocar Mozart à maneira de Schumann, de Chopin ou de Ravel. Dir-se-á: “Não há gosto em filosofia”. Certamente, se ela e sua história resultam em ciência. Mas então a exigência da verdade comanda o respeito à alma e ao estilo, assim parece, não menos estritamente do que deveria comandálo a exigência do gosto, para quem quer que fosse tentado a ver nela

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