saberes sujeitados
Nos vinte últimos anos, quero dizer, um período no qual se podem notar dois fenômenos que foram, se não realmente importantes, pelo menos, parece-me, bastante interessantes. De um lado, foi um período caracterizado por aquilo que poderíamos chamar de eficácia das ofensivas dispersas e descontínuas. Penso em várias coisas, na estranha, eficácia, por exemplo, quando se trata de trava o funcionamento da instituição psiquiátrica, no discurso, dos discursos, sustentados, por nenhuma sistematização de conjunto, quaisquer que ainda possam ser suas referências. A imensa e prolífera criticabilidade das coisas, das instituições, das práticas, dos discursos; uma espécie de friabilidade geral dos solos, mesmo, talvez, sobretudo, os mais familiares, os mais sólidos e mais próximos de nós, de nosso corpo, de nossos gestos de todos os dias; é isso que aparece. Mas, ao mesmo tempo em que essa friabilidade e essa espantosa eficácia das críticas descontínuas e particulares, locais, descobre- -se, por isso mesmo, nos fatos, algo que talvez não estivesse previsto no início: seria que se poderia chamar de efeito inibidor próprio das teorias totalitárias, quero dizer, em todo caso, das teorias envolventes e globais. A primeira característica do que aconteceu durante estes quinze anos: caráter local da crítica, empirismo obtuso, ingênuo ou simplório , o que também não quer dizer ecletismo frouxo, oportunismo, permeabilidade a um empreendimento teórico qualquer, nem tampouco ascetismo um pouco voluntário, que se reduziria ele próprio à maior magreza teórica possível. Essa crítica local se efetuou, parece-me, por aquilo, através daquilo que se poderia chamar de “reviravoltas de saber”. Por “reviravoltas de saber”, quero dizer o seguinte: se é verdade que, nesses anos que acabaram de passar, era comum encontrar, pelo menos num nível superficial, toda uma temática: “não! Chega de saber, o que interessa é a vida”, “chega de conhecimentos, o que interessa é o real!”,