Os Museus e o Patrimônio Histórico
Claudio Umpierre CARLAN•
Resumo: O termo museu, originário do grego mouseion, Templo das Musas, filhas de Zeus com Mnemosine, a memória. Local onde abrigava os mais variados ramos das artes e ciências.
Sofreu uma severa evolução desde os gabinetes de curiosidades dos séculos XV – XVI, até o século XXI, como o “guardião” da cultura material. Essa cultura material, diretamente associada ao
Patrimônio Histórico, nos relata não apenas objetos produzidos pela inteligência humana, mas partes importantes do seu cotidiano. Nesse artigo discutiremos esse conflito de interesses entre as duas instituições.
Palavras-Chave: Museu; Patrimônio; Arqueologia.
Do Colecionismo ao Patrimônio Histórico
Hoje visto apenas como um hobby, o colecionismo sempre foi a primeira expressão de uma hierarquia política, econômica e social. Suetônio (69 - 140), no século I da Era Cristã, já relatava a importante coleção numismática do Imperador Augusto (63 a.C.
- 14 d.C.)1.
Com a divisão da Europa, após a grande derrocada do
Império Romano do Ocidente (476), os novos reinos germânicos, vulgarmente conhecidos por “reinos bárbaros”, procuraram a
• Professor Doutor – Departamento de História – Centro de Ciências
Humanas e Sociais – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
– UNIRIO – 22290-240 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil. E-mail: claudiocarlan@yahoo.com.br HISTÓRIA, São Paulo, 27 (2): 2008
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CLAUDIO UMPIERRE CARLAN
legitimação dos seus governos no passado romano. Na
Península Ibérica, o rei visigodo Chindasvinto (562 – 653), associou seu filho e sucessor Recesvinto (? – 672) ao trono, ainda em vida. Algo raro entre os jovens reinos germânicos. Como elemento legitimador do seu poder, Chindasvinto manda cunhar uma moeda de ouro, onde estão representados, no seu anverso, os bustos dele e do filho. O rei “bárbaro” usou o mesmo método de propaganda adotado pelos imperadores romanos: a moeda.