MEMORIAS DE UM CATIVEIRO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS SAÚDE E TECNOLOGIA
DISCIPLINA: HISTÓRIA DA ÁFRICA

NATALIA MENDES

Memórias de um cativeiro
Os escravos africanos eram considerados ‘terra de ninguém’, faziam a vontade de todos menos a sua própria. Usados como ferramenta, eram reificados por uma visão parca e utilitarista do ser. Vinham acompanhados de termos como “comprado” “vendido”. Levados em jacás, separados logo cedo dos pais. A forma que as gerações posteriores narram essas experiências herdadas trazem, ao mesmo tempo, que (re) posicionamentos não ditos e silêncios, um grito por legitimação identitária.
Depois de livres do cativeiro escravocrata, eles permaneceram acorrentados. Dependentes de quem detinha o conhecimento, a terra, o poder. Para tais, princesa Isabel só assinara um papel, nada tinha de liberdade naquilo. Já na República, o populista, soube ganhar nome sobre os trabalhadores da terra: entregou-lhes direitos civis mais delineados. O mérito é de Getúlio: “Só fomos libertos quando pudemos trabalhar oito horas por dia”.
Essas afirmações a história pode até negar, mas a memória não esquece, elas se perpetuam no subterrâneo. No entanto, não há apenas (re) posicionamentos há também, entre palavras, silêncios. Estes também precisam ser ouvidos, nem sempre representam esquecimento, mas lembrança que quando tocadas calam os lábios e gritam no coração uma tristeza emprestada gerações a fio. Assim observa-se também não ditos que após interpretados podem falar mais do que o que o próprio interlocutor quer contar.
Seu Manoel¹, por exemplo, narra que sua vó Zeferina¹ não lhe contara as historias do cativeiro, queria abafar tal memória, logo ele recebia uma palavra de repreensão se passasse perto quando ela contava algum feito da época. Uma memória que se perpetuara na escuridão de seu próprio ser, algo vivido que era melhor não ser lembrado, pois que era como viver novamente.
Dona Zeferina não queria ser conhecida ou lembrada a