Manifestações populares
Não se tratou de uma manifestação pontual contra o recente aumento das tarifas, que foram reajustadas abaixo da inflação por fator conjuntural e não por uma política tarifária permanente.
Foi uma manifestação para trazer à tona a discussão sobre a política de transportes públicos em geral e, particularmente, sobre a política tarifária, como se depreende das palavras de ordem e das entrevistas dos manifestantes.
Não se tratou de uma manifestação de jovens estudantes e de não trabalhadores, e/ou de pseudo -revolucionários com atitudes de vandalismo, numa postura de contestação a tudo que é autoridade ou instituição. Essa é uma versão, uma narrativa, de quem quer, por qualquer razão, desqualificar o acontecimento.
O MPL e os demais movimentos, com as manifestações e a respectiva repercussão, trouxeram a questão dos transportes coletivos para onde deve se situar, ou seja, no campo da política. E, nesse campo, o financiamento da tarifa como questão central para efetivamente tornar o transporte público e de acesso universal, bem como torná-lo competitivo com os modos individuais motorizados, que respondem pelos insuportáveis congestionamentos na cidade. Congestionamentos cotidianos e sistemáticos, e não como o eventualmente provocado pela manifestação, este sim pontual.
Numa democracia são legítimas as disputas políticas pelos recursos do Estado, e as manifestações nada mais estão fazendo do que disputar mais recursos para o financiamento da tarifa e, no limite, o subsídio total, a tarifa zero, como acontece na saúde, na educação e na segurança públicas.
O momento político é riquíssimo a partir das manifestações. Se houver uma conjugação de pressão, debate e propostas, poderá transformar definitivamente a questão da mobilidade urbana,