Magistro
BENTO SILVA SANTOS (UFES – Departamento de Filosofia)
Em suas Retratações Agostinho introduz o leitor na obra De Magistro com as seguintes palavras: “Na mesma época escrevi o livro De Magistro, no qual se discute, se investiga e se encontra que o mestre não é aquele que ensina ao homem as ciências, mas Deus, segundo está escrito no Evangelho: Um só é o vosso mestre, Cristo” (Mt 23,8)2. Dada a sensibilidade particular no uso da linguagem em sua vasta obra filosófico-teológica, Agostinho foi de fato considerado, no âmbito da Patrística, o primeiro a formular uma teoria lingüística original, ainda que com os limites devidos ao contexto histórico às finalidades de sua visão prático-teórica3. No período teológico mais fértil da Idade Média, o De Magistro foi objeto de comentários e discussões4, ao passo que hoje tem sido também
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Publicado em RAIMUNDO DA COSTA, J. (ed.) Ensaios & Estudos.Belo Horizonte: Ed. Lutador,1997, 151-169. As opiniões expressas aqui foram modificadas e ampliadas em minha tradução da obra: S. AGOSTINHO, De Magistro. Introdução, tradução e comentário de Bento Silva Santos.Petrópolis: Vozes,2009. AGOSTINHO, Retractationes 1,12, Patrologia Latina 32,602
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Cf. G. CENACCHI, Problemi linguistici in S. Agostino, Sapienza 38 (1985) 279. Após uma primeira abordagem em perspectiva lingüística no De Ordine, Agostinho procede com maior conhecimento lingüístico através do De Magistro, do De Doctrina Christiana, do De Trinitate. TOMÁS DE AQUINO compôs seu próprio De Magistro (Quaestiones disputate de veritate, qu. 11), principalmente sobre questões e objeções levantadas por Agostinho. A propósito, W. SCHMIDL fornece uma análise detalhada do De Magistro de S. Tomás de Aquino, mostrando igualmente a dinâmica da aprendizagem que caracteriza o exame da razão humana onde podemos ver o surgimento progressivo da subjetividade: Cf. Homo Discens. Studien zur pädagogischen Anthropologie bei Thomas von