Lesbianismo
Quem sou eu que não sou você?
Como se pode atribuir uma identidade a partir de uma prática, de que forma o desejo e a sexualidade se tornaram atributos essenciais do ser?
Todas as definições criam um campo de significações e neste espaço surgem imagens e representações que simbolizam os sentidos delimitados. O discurso percorre caminhos de explicitações e interdições, porém pode-se vislumbrar uma infinidade de sentidos possíveis , silêncios constitutivos da linguagem. Quando se fala assim de heterossexualidade, a pluralidade das vinculações sexo/gênero é ao mesmo tempo revelada e obscurecida.
Se o propósito é destruir as evidências [1] e a pretensa univocidade do sentido dado , a tarefa é multiplicar as questões , alimentar o múltiplo no perfil das relações e da tipologia social. De fato, não se deve esquecer que as palavras e as definições estão envoltas num halo conotativo, cujos valores são explicitados na própria denominação. O ato de nomear é um movimento de criação: quando se diz “lésbica” faz-se aparecer um personagem cujo perfil obedece às características traçadas pelo momento de sua enunciação. No século XVI não havia uma palavra para nomear o sexo entre mulheres, que era assim assimilado ao homossexualismo masculino: as mulheres que tinham relações sexuais eram então chamadas de “sodomitas”.[2] E “lesbianismo” designa… o quê, propriamente? Relações sexuais, sentimentos , atração entre mulheres? Todas as opções ou apenas uma ? Se o sentimento ou a atração não se concretizam em atos pode-se falar de lesbianismo?
De acordo com o dicionário, [3]“Lesbico: diz -se do amor sexual de uma mulher a outra”. Amor ou sexo, qual destes ítens define o lesbianismo? O sentimento ou a prática de uma certa sexualidade? O que é ser lésbica? Como criar uma identidade individual ou de grupo em torno de uma preferência eventual ou sistemática?
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