Escola

Era uma vez
O que fazia um moleque de 10 anos em 1984?
Bem, eu não "soltava" pipa (nunca entendi esta expressão, se é pra soltar, como se brinca?), não rodava peão, videogame, na época, era coisa de "rico" e cinema, ah, cinema, a cada dois anos é que apareciam boas opções de filmes. Na minha idade, uma vez por ano, o lance era ver o novo filme dos Trapalhões. Vivia eu a era pré-Xuxa (graças à Deus).
Ok, eu estudava também, era um bom aluno. Nunca fui genial, embora todos os meus familiares mais próximos achassem. Ganhava concurso na EBD (Escola Bíblica Dominical) e na EBF (Escola Bíblica de Férias). Sim, eu sou crente. Eu fui crente, desde que me lembro. Decorava os 66 livros da Bíblia e todo mundo achava aquilo sensacional. Eu também.
Estudava pouco mas tinha uma boa memória, ao menos para decorar longos fatos, datas e eventos. Ter uma boa memória me fez ser bastante feliz na infância. Compensava minha falta de estudo e outras habilidades. Saía na frente, dos que por exemplo, estudavam mas não se lembravam de quando Cabral escreveu a carta para o Rei de Portugal ou mesmo quem foi responsável pela Inconfidência Mineira. Informações hoje tão inúteis que não modificaram uma vírgula do meu destino. Enfim...
Mas se eu não soltava pipa (mesmo que meus tios insistissem), se eu não tinha peão e era pobre pra ter videogame, o que eu fazia quando não estava envolvido fazendo dever de casa ou dormindo?
Eu estava vendo televisão!
Diz a minha mãe, que quando eu era neném, embora sempre fosse muito calmo, o que me deixava mais calmo ainda, era ficar em frente à TV, assistindo os programas infantis da época. Essa quietude diante do "quadrado mágico", eu herdei até hoje.
Meus pais, mesmo sendo cristãos severos e quase ortodoxos, nunca impuseram limites gigantes quanto ao uso da TV, porque não é que eu via muito, eu assistia INTENSAMENTE. Prestava atenção aos detalhes, gravava falas. Amava desenhos animados e fazia perguntas técnicas sobre o cenário, que óbvio, ninguém