Comparação entre medeia e gota d'água

Fazendo uma comparação entre a Medeia de Eurípedes e Gota D’Água de Chico Buarque e Paulo Pontes, percebemos que a personagem Medeia de Eurípedes apresenta dois níveis distintos: no primeiro ela aparece como a amante traída que se vinga, daí decorrendo a ação da tragédia. Ela surge no começo como uma mulher tomada pelo ciúme, que se expande em sofrimento, em desespero e, em seguida, ódio. Na Gota d'Água, a Medeia chama-se Joana. No início, ao saber da traição de Jasão, seu amante, ela se lamenta. Se a Medeia de Eurípedes sofre e se lamenta femininamente nas primeiras falas, Joana, revoltada, já pensa em vingança.
Em Eurípedes, mesmo sendo considerada bárbara, Medeia conta com a simpatia do coro feminino que lhe é favorável. Assim como em Gota d'Água, o coro (representado pelas moradoras do conjunto habitacional) se compadece de Joana, aconselhando resignação.
O autor grego nos dá uma visão cultural do relacionamento de Medeia com os gregos. Em Gota d´Água, os autores adaptaram o ponto de vista grego à realidade brasileira, transformando-o numa luta entre Creonte (símbolo do poder econômico com sua capacidade corruptora) contra aqueles que nada podem, em especial Joana, expulsa, humilhada por uma vontade mais forte estruturada na riqueza.
Jasão de Eurípedes tinha um passado heroico, sendo o principal argonauta, tendo trazido para a Grécia o Tosão de Ouro. Assim como o Jasão da Gota d´Água, que já tinha obtido sucesso com seu samba, estando no caminho da fama. Em Eurípedes, Medeia aparece como uma criatura que perdeu seu passado mítico. Esse fato se revela no momento em que passa a manipular seus poderes mágicos não mais em função da coletividade, e sim em função de seu amor por Jasão, com valor individual, gerando a noção de crime e marginalizando-a. Na Gota d´Água, Joana usa os poderes da macumba para preparar um feitiço contra Creonte e a filha que é sua rival.
No momento crítico de ambas as tragédias, Medeia e Joana sentem que foram vencidas. A Medeia do