Bion

Comentários ao trabalho de Cassio Rotenberg1
Arnaldo Chuster2
I
Em primeiro lugar gostaria de agradecer o convite do caro amigo e colega, cujo trabalho tenho acompanhando sempre com muito interesse e renovada satisfação. Sinto-me feliz e honrado de estar aqui hoje fazendo estes comentários.
Em segundo lugar gostaria de me associar a ele na homenagem prestada ao Hélio e a pessoa extraordinária, amiga, e dedicada que ele sempre se mostrou.
Em terceiro lugar esclareço que estes comentários não são exatamente comentários, mas associações que o trabalho me inspirou. São, portanto, tentativas de colaboração com o tema que também me é muito estimulante.
II
Sempre que retomamos de forma crítica um conceito e percebemos nele uma ou mais invariantes podemos desenvolver ideias que conduzem a detalhes não descritos que revelam novas configurações. Embora semelhantes às descobertas do conceito original elas, além de tornar mais precisas as configurações anteriores, as tornam mais complexas, e destacam a singularidade e a originalidade do autor. Penso que foi isso que Cassio pode fazer com o conceito de awe, destacando ao mesmo tempo por sua proposta a abertura e a complexidade que está envolvida na obra de Bion.
Notadamente Cassio pôde fazer isto ao retomar o conceito de awe através do modelo espectral de Bion destacando as inúmeras possibilidades que ele oferece para uma discussão. A proposta é pensar o conceito de awe como um espectro de significados perscrutando a vida das palavras que os traduzem.
Cassio aprofundou-se de forma muito agradável no tema destacando novas configurações. Eu penso que esta forma de abordagem nunca pode ser deixada de lado por nós psicanalistas. Eu destaco um trecho de Guimarães Rosa onde melhor se expressa para mim esta preocupação: a linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho de sua personalidade não vive; e como a vida é uma corrente contínua, a linguagem também deve evoluir constantemente. Isso significa