As Ilusões das Relações Raciais

O capítulo III do livro intitulado “O que faz o brasil, Brasil?” de Roberto DaMatta inicia com uma reflexão em torno de um provérbio proferido por André João Antonil, Jesuíta italiano. Segundo este provérbio, elaborado no século XVIII em uma sociedade de senhores e escravos: “O Brasil é um inferno para os negros, um purgatório para os brancos e um paraíso para os mulatos”. Neste período haviam diversas teorias influenciadas pelo positivismo que tentavam explicar a superioridade dos brancos e a inferioridade dos negros. Um dos teóricos que defendeu esta tese racista foi o Conde de Gobineau, amigo de D. Pedro II. Para ele, as raças eram divididas de acordo com o intelecto, as propensões animais e as manifestações morais de cada um. Desse modo, os negros sempre ficavam abaixo dos brancos em absolutamente tudo. O Conde de Gobineau defendia uma sociedade hierarquizada, na qual os brancos não poderiam se misturar com os negros. Em sua vinda ao Brasil, ficou escandalizado ao ver que a nossa sociedade permitia a miscigenação descontrolada de raças e por este motivo ele previu que o povo brasileiro acabaria em menos de 200 anos. Caso ocorresse a miscigenação o conceito de sociedade iria acabar. Goubineau não se incomodava com a existência de raças diferentes, desde que elas ficassem no seu lugar e não se misturassem.
Voltando para o provérbio proferido por Antonil, ele não se refere ao branco, negro e mulato em uma perspectiva biológica, mas em uma perspectiva social que relaciona o negro com o inferno, o branco com o purgatório e o mulato com o paraíso. Assim é estabelecido um triângulo para o entendimento da sociedade brasileira. Nós temos um conjunto infinito e variado de categorias intermediárias em que o mulato representa uma cristalização perfeita.
Por que não há duvida alguma de que ele percebeu o valor positivo que associamos ao intermediário, a categoria que fica no meio, ao ser situado entre os extremos e que, por isso mesmo, permite a sua associação e a negação