ALICE NO PAIS

1706 palavras 7 páginas
Pouco tempo depois do meu último texto aqui no Juristas (http://bit.ly/1pVHcjo), encontrei com um colega que fez questão de criticar (de uma forma tão sutil quanto uma vaca em trabalho de parto) o que eu tinha exposto. Segundo ele, "ninguém pode mudar o jeito como as coisas são". Achei graça. Foi quando percebi que alguns estudantes de Direito são (deliberadamente) como que uma Alice no País das Maravilhas... só que jurídicas, neste caso. Maravilhados com um mundo que acabaram de descobrir. Iludidos em relação ao que pode ser feito ali. De fato, algumas passagens da grande obra de Lewis Carroll parecem feitas para descrever este tipo de bacharelando e as ideias que carregam: "Nada se é conquistado com lágrimas"
O mito da boa oratória como solução para todas as mazelas

Essa é uma ideia tão comum que é quase um postulado. Pior ainda, muitas vezes é estimulada pelas próprias Alices nas conversas com os colegas de outras áreas. Advogado tem que falar bem. Tem que ser bom ator. Alguns vão além e afirmam que advogado tem que ter postura. Andar reto. Usar ternos de grife e anel de formatura. Dirigir o melhor carro que puder. E tem que falar bem. Duas vezes. É como se o juiz fosse o espectador de uma peça teatral e a sentença fosse sua resenha sobre a atuação dos portadores da capacidade postulatória. Ledo engano. Qualquer vislumbre de prática joga por terra tal ideia. É certo que indispensável que o advogado se expresse de maneira satisfatória. Mas não é, nem nunca foi, suficiente que se porte como um James Earl Jones.

"Suponho que saiba o que 'isso' significa. — disse o Camundongo.
Sei muito bem o que 'isso' significa quando eu acho uma coisa. — disse o Pato."
A recusa à ideia de que a função interpretativa pode levar a diferentes conclusões

Mesmo entre os que defendem que a oratória impecável é o que faz um bom doutor existem muitos que nunca se ocuparam em estudar argumentação. Pouco importa que as teorias da argumentação e da linguagem tenham ganho relevância

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