ALICE NO PAIS
O mito da boa oratória como solução para todas as mazelas
Essa é uma ideia tão comum que é quase um postulado. Pior ainda, muitas vezes é estimulada pelas próprias Alices nas conversas com os colegas de outras áreas. Advogado tem que falar bem. Tem que ser bom ator. Alguns vão além e afirmam que advogado tem que ter postura. Andar reto. Usar ternos de grife e anel de formatura. Dirigir o melhor carro que puder. E tem que falar bem. Duas vezes. É como se o juiz fosse o espectador de uma peça teatral e a sentença fosse sua resenha sobre a atuação dos portadores da capacidade postulatória. Ledo engano. Qualquer vislumbre de prática joga por terra tal ideia. É certo que indispensável que o advogado se expresse de maneira satisfatória. Mas não é, nem nunca foi, suficiente que se porte como um James Earl Jones.
"Suponho que saiba o que 'isso' significa. — disse o Camundongo.
Sei muito bem o que 'isso' significa quando eu acho uma coisa. — disse o Pato."
A recusa à ideia de que a função interpretativa pode levar a diferentes conclusões
Mesmo entre os que defendem que a oratória impecável é o que faz um bom doutor existem muitos que nunca se ocuparam em estudar argumentação. Pouco importa que as teorias da argumentação e da linguagem tenham ganho relevância