Aborto - Religião

Há claramente uma intervenção religiosa incentivando as decisões do Estado acerca do assunto. O que gera dúvidas no atendimento hospitalar prestado por organizações sociais religiosas, que recebem apoio financeiro e subsídios governamentais. Mesmo com amplas restrições aos medicamentos proibidos pela ANVISA e o difícil acesso a clinicas que realizam o procedimento clandestinamente, mais de um milhão de abortos são realizados por ano. Nem sempre o processo de abortamento clandestino prescinde da assistência médica e quando as mulheres buscam os serviços de saúde, acabam vitimadas por censura, ameaças, maus tratos e total descaso dos próprios profissionais de saúde, motivados por seus dogmas e crenças religiosas.
Os estudos de itinerários de mulheres que abortam mostram que quanto mais pobres, mais tempo e mais difícil é para elas o acesso a um atendimento em serviço de saúde. Por isso morrem ou adquirem doenças em decorrência do abortamento desassistido. O que aumenta as estatísticas de mortalidade materna, que tem o aborto como maior causa.
A legalização do aborto é uma necessidade. O descaso e o abandono do Estado com as mulheres e famílias que necessitam ou desejam abortar gera um grande sofrimento.
Grupos religiosos, sob aprovações do governo, tentam impor ao país, propostas como o Estatuto do Nascituro, que priva a mulher do aborto até mesmo no caso de violência sexual e propõe uma pensão à vítima nessa situação. O papel dos governantes nesse caso tem que ser humanização, sensibilidade e solidariedade pelas as mulheres violentadas, vitimadas, abandonadas e desesperadas. A humanização independe da religião e crença de todos e, é imprescindível que suas decisões sejam pautadas pelo respeito ao outro e pela solidariedade, destinadas à sociedade em conjunto. Só assim o país pode avançar para promover laicidade, democracia, direitos humanos, autonomia e a saúde das mulheres.